3 de janeiro de 2025
Este ano, o VAGA completa 10 anos de atuação em arquitetura e urbanismo. Durante esse período, nosso escritório mudou de endereço, se profissionalizou e, hoje, está localizado no centro de São Paulo – cidade que completou 471 anos em janeiro e que, assim como nós, está em constante transformação. Ao longo desta década, passamos de um atelier de projetos para uma empresa estruturada que acompanha as transformações das cidades e cuja arquitetura vem se adaptando de acordo com as rápidas mudanças do mundo contemporâneo.
Para celebrar os aniversários da cidade e do nosso escritório, compartilhamos a seguir uma entrevista na qual os sócios-fundadores do VAGA, Pedro Domingues e Pedro Faria, discutem os principais aspectos da evolução de São Paulo e do VAGA no campo da arquitetura e do urbanismo.
Além disso, na seção Novidades do Mercado, contamos sobre nossa recente visita à fábrica da Placlux para conhecer mais sobre o sistema Light Steel Frame (LSF), uma solução inovadora que reforça nosso compromisso com uma arquitetura mais sustentável e eficiente.
Confira:
– O escritório do VAGA está localizado na Av. Ipiranga, entre o Copan e o Edifício Itália. O que os levou à escolha desse endereço? O que significa estar situado no centro de São Paulo para vocês?
Pedro Domingues: Nascemos numa garagem em Pinheiros, em 2015, e, desde 2020, estamos na Avenida Ipiranga, entre o Copan e o Edifício Itália. A escolha do centro de São Paulo como sede do VAGA reflete nossa visão de cidade como um espaço pulsante, repleto de diversidade, história e potencial de transformação. Estar entre dois ícones arquitetônicos nos conecta ao legado modernista e nos posiciona estrategicamente em uma área que concentra desafios e oportunidades urbanas. Além disso, a região reúne uma significativa concentração de escritórios de arquitetura e é favorecida pela proximidade com instituições renomadas, como o Mackenzie e a Escola da Cidade, além de oferecer uma localização estratégica com excelente acesso ao transporte público.
Pedro Faria: Para nós, o centro simboliza o dinamismo de São Paulo, palco de movimentos crescentes de revitalização que promovem usos mistos, maior densidade e diversidade populacional e ressignificação de espaços degradados. Nossa presença aqui também reflete um compromisso: queremos ser agentes de transformação, inspirando projetos que integram arquitetura, urbanismo e qualidade de vida. Ficamos felizes quando nossos clientes vêm nos visitar e muitas vezes se surpreendem positivamente com esse centro em transformação, já que muitos a muito tempo não visitavam a região.
– Como foi o processo de adaptar esse espaço do escritório para as necessidades de vocês?
Pedro Faria: Adaptar o espaço foi um exercício de projetar para nossas próprias necessidades, o que nos permitiu traduzir nossa abordagem de arquitetura. Criamos um ambiente flexível e funcional, que também expressa nossa identidade. Neste processo, desvelamos a estrutura original do Edifício Vila Normanda, utilizamos materiais naturais e adotamos um layout que privilegia o trabalho colaborativo. Essas escolhas refletem nossa atenção ao detalhe e ao impacto que o espaço gera no bem-estar de seus usuários. A adaptação também reforça nossa crença na requalificação de edificações existentes em ambientes mais pertinentes às questões contemporâneas, eficientes e inspiradores.
– Como vocês avaliam as principais transformações urbanas de São Paulo nas últimas décadas? Quais mudanças consideram mais significativas?
Pedro Domingues: São Paulo reflete tendências globais do urbanismo contemporâneo, mas também enfrenta desafios específicos. A verticalização crescente e a expansão das periferias moldaram sua paisagem, enquanto projetos como a requalificação de áreas degradadas, a reapropriação do espaço público pela população – a exemplo do Parque Minhocão, Paulista Aberta e Parque Augusta –, bem como a implementação de ciclovias e faixas exclusivas de ônibus, trouxeram avanços na mobilidade e na vivência urbana. No entanto, a ausência de uma visão de planejamento integrado tem acentuado desigualdades na distribuição de infraestrutura e serviços. Além disso, desafios como enchentes, ilhas de calor e escassez de áreas verdes demandam respostas urgentes.
Pedro Faria: Ainda carecemos de uma estratégia clara e eficiente para equilibrar a preservação do patrimônio histórico com as demandas por novos empreendimentos e retrofit de edifícios. Tecnologias e práticas mais sustentáveis podem ser aliadas na superação desses desafios, mas isso exige um alinhamento entre iniciativa privada, poder público e sociedade civil, sem deixar de lado o papel fundamental do arquiteto-urbanista.
– Como a arquitetura se transforma a partir das novas necessidades da cidade?
Pedro Domingues: A arquitetura contemporânea precisa dialogar com a cidade e as demandas de seus habitantes, ou seja, pensar projetos que sejam flexíveis, resilientes e capazes de atender não apenas às demandas imediatas, mas também às necessidades futuras. Conforto térmico, iluminação, além de tecnologias como sistemas construtivos industrializados, BIM e uma visão ampla de sustentabilidade estão mudando a forma como projetamos. Além disso, há uma crescente valorização do “urbanismo tático”, que implementa soluções de baixo custo e rápido impacto. Essas ações são complementadas por uma visão holística, que enxerga a arquitetura como parte de um sistema urbano interdependente.
– Como os projetos arquitetônicos podem contribuir para melhorar a relação dos moradores com o espaço público?
Pedro Faria: A arquitetura pode tornar o espaço público mais convidativo ao criar pontos de encontro e convivência voltados para as pessoas. Isso inclui fachadas permeáveis, áreas verdes acessíveis e calçadas que incentivem a permanência dos pedestres.
Pedro Domingues: Um exemplo disso é o projeto do edifício residencial Vila Gomes, onde a esquina foi concebida como uma zona de transição entre o público e o privado. Criamos um espaço vazio na volumetria do edifício, que não apenas define seu acesso, mas também se abre gentilmente para a cidade. O projeto se organiza em três blocos independentes, conectados por uma circulação comum, enxuta e integrada ao exterior. Além disso, priorizamos a presença de áreas verdes generosas, tanto no térreo quanto nos pavimentos superiores, reforçando a relação entre arquitetura, pessoas e natureza.
– O que falta em São Paulo para que os espaços públicos sejam mais vividos e apropriados pela população?
Pedro Faria: São Paulo ainda sofre com a fragmentação do tecido urbano, dificultando a criação de espaços públicos e áreas verdes verdadeiramente acessíveis. Em geral, espaços públicos de mais qualidade estão concentrados nas áreas mais nobres da cidade o que dificulta o acesso da população das periferias. Além disso, problemas como falta de segurança, acessibilidade universal limitada e manutenção insuficiente das áreas verdes são obstáculos significativos.
Pedro Domingues: Uma estratégia eficaz poderia incluir redes integradas de mobilidade ativa, corredores verdes conectando áreas de vegetação existentes e incentivo à habitação de interesse social nas regiões centrais. Espaços públicos bem planejados e geridos de forma participativa são essenciais para tornar São Paulo mais inclusiva e sustentável.
– Vocês acreditam que a cidade está pronta para lidar com os desafios climáticos futuros, como enchentes e ilhas de calor? Quais técnicas e materiais já foram utilizados em projetos do VAGA e que poderiam ser utilizadas em outras construções pela cidade?
Pedro Faria: Infelizmente esses problemas são críticos já nos dias de hoje e São Paulo ainda está longe de estar preparada para lidar com os desafios climáticos. A prova disso fica evidente a cada tempestade ou evento climático mais extremo. No entanto, soluções arquitetônicas e urbanísticas podem mitigar parcialmente esses impactos. Na escala do edifício, técnicas de design passivo, captação e reúso de água pluvial, pavimentações permeáveis e telhados verdes são fundamentais para lidar com enchentes. Para enfrentar as ilhas de calor, é necessário incorporar áreas sombreadas, vegetação abundante e fachadas ventiladas.
Pedro Domingues: No VAGA, estamos constantemente preocupados em propor soluções como o uso de materiais naturais de baixa emissão de carbono, além de sistemas construtivos modulares e racionalizados que reduzem o desperdício. Quando replicadas em larga escala, essas práticas podem trazer melhorias significativas para a cidade, mas devem ser conjugadas com outras iniciativas na escala urbana.
– Existe uma “arquitetura paulistana”? Como ela se diferencia em relação a outras grandes cidades?
Pedro Domingues: A arquitetura paulistana reflete uma trajetória rica e multifacetada, marcada pela evolução urbana e pela adaptação às demandas de uma das maiores metrópoles do mundo. Desde sua fundação, no século XVI, como um pequeno núcleo jesuítico, São Paulo passou por um intenso processo de transformação urbana, especialmente a partir do ciclo do café e da industrialização no século XX, que impulsionaram sua verticalização e densidade. No campo arquitetônico, é inegável o legado do modernismo brasileiro, representado por ícones como o Edifício Copan, de Oscar Niemeyer, e o MASP, de Lina Bo Bardi, que ilustram uma arquitetura visionária. Também se destaca a contribuição da chamada “Escola Paulista”, com nomes como João Batista Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, que introduziram uma linguagem brutalista marcada pelo uso expressivo do concreto aparente, racionalidade estrutural e integração com o espaço urbano.
Pedro Faria: Por outro lado, São Paulo tem uma arquitetura pragmática e adaptável, moldada pela densidade urbana e pela necessidade constante de reinvenção. Diferente do Rio de Janeiro, cuja geografia define seu traçado urbano, São Paulo apresenta um caráter heterogêneo e dinâmico, evidente na multiplicidade de soluções contemporâneas, como retrofit de edifícios e projetos de usos mistos. Essa flexibilidade permite que a arquitetura paulistana responda aos desafios urbanos enquanto preserva sua identidade.
Novidades do Mercado
No início do ano, visitamos a fábrica da PlacLux do Grupo Innova Steel, em Santo André, para conhecer de perto o processo de fabricação do sistema Light Steel Frame (LSF). Essa tecnologia, amplamente utilizada em diversos países, tem ganhado espaço no Brasil devido à sua leveza, precisão e rapidez na execução. Durante a visita, acompanhamos a produção dos perfis metálicos, a montagem dos painéis estruturais e as soluções desenvolvidas para garantir eficiência térmica e acústica. O LSF se destaca por ser um sistema industrializado e altamente racionalizado, reduzindo significativamente o desperdício de materiais e o impacto ambiental da construção.
Além da agilidade e do desempenho técnico, o Light Steel Frame se alinha às demandas contemporâneas da arquitetura sustentável. A construção a seco minimiza o consumo de água e possibilita maior controle sobre a obra, garantindo qualidade e eficiência energética ao longo do ciclo de vida do edifício. Em um contexto onde a busca por soluções sustentáveis é cada vez mais urgente, incorporar tecnologias como o LSF permite desenvolver projetos mais inteligentes e alinhados ao futuro da construção civil.
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