CASA DA SUSTENTABILIDADE 

ficha técnica

  • Localização: Campinas-SP 
  • Ano Projeto: 2016 
  • Ano Obra:  
  • Área Terreno: m2 
  • Área Projeto: 1.837,50 m2 
  • Autores: Fernando O’leary, Pedro Domingues, Pedro Faria 
  • Colaboradores: Beatriz Menezes, Nara Diniz 
  • Cliente: Prefeitura do Município de Campinas – Secretaria Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável 
  • Projetos Complementares e Consultorias: – 
  • Fornecedores: 
  • Fotos:  
  • Prêmios:  
  • Publicações:  

Concurso Nacional para Casa da Sustentabilidade no Parque Taquaral em Campinas-SP, promovido pelo IAB-SP 

Ao mesmo tempo que homem da natureza é fruto e parte integrante de um ciclo de interações naturais, a natureza do homem se caracteriza por sua necessidade de criação do novo, o tornando um agente transformador do ambiente que o cerca. Para suprir seus anseios e as demandas necessárias ao seu desenvolvimento, o homem domina e explora o ambiente em que vive, estabelecendo assim uma relação predatória, na qual a manipulação do natural o afastou de sua origem como ser integrante de um sistema equilibrado. Nesta ambiguidade vive o homem moderno, que juntamente com seu desejo de imprimir sua presença na natureza, carece do contato com sua condição mais elementar como parte integrante do mundo natural. 

Na sua condição de predador, o homem impossibilita sua própria existência ao exigir mais do meio ambiente que sua capacidade de regeneração. Torna-se então necessária a busca do equilíbrio através de uma interação de mutualismo em que homem e natureza convivem de maneira harmônica se beneficiando reciprocamente. 

A água, matéria essencial à subsistência de qualquer organismo vivo, é a representação da relação interespecífica entre homem e natureza ao mesmo tempo em que é símbolo de um ciclo continuo de manutenção da vida. Esse único elemento é capaz de constituir tanto o poder de cura, potencializando a capacidade de regeneração ambiental, quanto o de ativação, catalisando o encontro social em um espaço democrático de apropriação livre, o qual estabelece uma nova relação de identidade e pertencimento entre as pessoas e a paisagem natural. A água, portanto, assume o papel de um catalisador da sustentabilidade ambiental e social conjuntamente. 

A partir de uma leitura do território, a primeira atitude projetual foi o afloramento do córrego, antes canalizado, que cruza a área de intervenção conectando os dois corpos de água existentes no Parque. A água antes oculta emerge como um elemento capaz de estabelecer a relação harmoniosa entre homem e natureza, a essência da sustentabilidade. A água manifesta-se para tratar os resíduos expelidos pelo homem e se aproxima deste em um espaço democrático, criando uma nova experiência de interação, fortalecendo a identidade e o pertencimento dos usuários. 

O partido projetual se consolida na implantação como enquadramento da natureza representando a presença humana que se sobrepõe à realidade pré-existente, configurando uma nova paisagem. O retângulo como perímetro de ocupação tem como objetivo conformar uma atmosfera singular no vazio interior, explicitando o estreitamento das relações entre o homem e a natureza. Esta atitude não tem a intenção de criar uma paisagem natural no interior do projeto e está distante de ser uma metáfora ou uma representação formal do natural. Aqui a racionalidade manifesta-se na forma de uma arquitetura que surge como ferramenta para estabelecer uma simbiose entre homem e natureza intimamente associados, convivendo em equilíbrio e harmonia num espaço delimitado. 

Partiu-se então para a inundação programática desse espaço através do paisagismo funcional. A partir da inserção de uma série de tanques de água e vegetação, configurou-se um sistema de depuração da água ao longo dos meandros do córrego. As plantas e microorganismos se alimentam dos dejetos produzidos pelo homem e nesse processo purificam a água que retorna para o consumo, cultivo e para o meio ambiente, configurando um ciclo fechado de cooperação mútua entre os elementos integrantes. A arquitetura surge como símbolo da racionalidade do homem, a água emerge à superfície como símbolo da natureza e juntos conformam um filtro biológico em que ambos são beneficiados. 

No instante em que se insere pontualmente o edifício no território, ele conforma como um acontecimento singular em meio a paisagem natural do Parque Portugal. Todo o programa se organiza em torno do espaço vazio central e configura uma exposição a céu aberto aos visitantes e transeuntes, induzidos a circular livremente no interior do edifício que não se coloca como uma barreira, mas como um elo de ligação entre o natural e o artificial. Neste lugar, as pessoas se sentem parte de um sistema equilibrado em um espaço de contemplação e interação direta com o natural. No perímetro funcionam os espaços de uso público, como exposições permanentes, loja e café e integrados a estes, os de uso semi-público como a área de eventos e exposições permanentes e o auditório. Os volumes de uso privado como administração e reuniões possuem uma circulação própria controlada, havendo somente a interação visual com a circulação pública. 

A sustentabilidade do edifício está intrinsecamente ligada à sua concepção conceitual e a sua tectônica. Sobre um piso permeável, inserem-se volumes de paredes de taipa, constituídas pelo solo que conforma o próprio lugar. Sobre esses volumes, uma cobertura leve em madeira certificada coberta por telhas metálicas com isolante térmico e telhas de polipropileno translúcido possibilita a ventilação e iluminação natural dos ambientes internos. Nela apoiam-se placas fotovoltaicas que geram energia para o funcionamento do edifício. A escolha dos materiais aplicados no projeto visa tanto a sustentabilidade ambiental quanto a redução de custo e logística para a implementação do edifício. 

Os resíduos sólidos orgânicos produzidos são destinados a uma área de compostagem cujo produto serve de adubo a uma área de hortas e cultivo regada pela água já tratada pelo processo biológico. O projeto concilia tanto inovações tecnológicas quanto técnicas tradicionais seculares na busca do equilíbrio entre o homem e sua natureza.  

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