Parque público em Araraquara – SP viabilizado através de parceria público-privada
Introdução
O território não é estático. Como um corpo vivo, ele passa por alterações no decorrer do seu trajeto. Sua paisagem é resultado da interpretação do lugar efêmero por essência e sua transformação define o hoje da cidade.
Situado no limite entre o urbano e o rural, o projeto do Parque considera as transformações do território ao longo do tempo e baseia-se na geografia como força atemporal existente no território para a criação de um lugar que visa ser o elo de ligação entre as pessoas, paisagem e memória.
Evidencia-se aqui a busca pela manutenção de uma identidade através de um espaço marcante na paisagem da cidade que seja efetivamente utilizado e apropriado pela população e passe a adquirir novos significados.
Um lugar ideal capaz de promover o encontro, uma situação singular de pertencimento em um território em transformação.
Cidade de Araraquara
Uma cadeia contínua de vias faz a conexão da área do parque com a cidade até a estrada. Partindo da Rodovia Washington Luís, a Rua Domingos Zanin desemboca na Av. Maria Antônia Camargo de Oliveira. Esta é uma das principais avenidas da cidade e atravessa toda a região do centro. Mais adiante ela se divide em duas outras vias. A primeira delas, a Av. Manoel de Abreu se prolongará através de uma via comercial que passará pelo trecho residencial do novo loteamento até chegar à área do Parque. Fazendo um percurso mais ao norte, a Av. Mauricio Galli, de caráter predominantemente comercial, se prolongará e virá a se tornar a principal via de acesso ao parque.
Observa-se a existência de diversas áreas verdes na mancha urbana, no entanto nem todas essas áreas representam espaços públicos que são efetivamente utilizados pela população, devido principalmente à dissociação dessas áreas a equipamentos públicos, espaços atrativos capazes de promover a confluência de pessoas.
Os sistemas de áreas verdes e equipamentos, conectados pelas vias de circulação e suas respectivas extensões e interligações configuram uma rede interligada que promoverá a integração das novas áreas de expansão urbana com as infraestruturas e dinâmicas da cidade.
Bairro Tanquinho
Além de um limite administrativo, um bairro é uma região na cidade marcada pelas suas características individuais e possui sua própria identidade que permite diferenciá-lo do resto do tecido urbano, podendo apresentar diferentes tipos de limites.
O bairro do Tanquinho está situado em uma área em expansão da cidade de Araraquara, marcado pelo limite da linha férrea e a proximidade com o município de Américo Brasiliense. Nesta área limítrofe entre o urbano e o rural, estão surgindo uma série de novos loteamentos ainda carentes em áreas de lazer. Apesar de ali existirem áreas denominadas verdes, não há nenhuma estrutura de suporte para a ocupação efetiva desses lugares, que acabam se tornando vazios subutilizados frequentemente associados ao descarte de resíduos.
O bairro em questão ainda não possui uma identidade marcante, esta será construída ao longo do tempo. Espaços que promovem o encontro social e diversas formas de apropriação podem propiciar um enraizamento dessa população que ali se estabelece.
Um dos objetivos do parque, portanto, é promover a sensação de pertencimento dos habitantes com o bairro em ascensão através de uma nova paisagem de identidade.
Objetivos e premissas
– Implementação de estruturas suficientes para o surgimento de uma área verde e de lazer que seja efetivamente utilizada pela população.
– Transformação da paisagem rural em paisagem metropolitana, associando a natureza a novos espaços de desfrute comunitário e construção de qualidade ambiental.
– Construção de uma nova paisagem através um espaço público que se torne palco para a apropriação espontânea da população, aumentando a qualidade de vida dos habitantes da região.
– Promoção de uma sensação de pertencimento dos habitantes com o bairro em ascensão através de uma nova paisagem de identidade.
– Promoção do encontro de pessoas através da inserção de equipamentos e atrativos sociais como áreas de esporte, lazer, cultura e infraestrutura (áreas institucionais), concentradas numa grande área verde.
– Criação espaços capazes de abrigar eventos de grande escala e livre apropriação.
– Valorização dos bairros adjacentes
– Proteção e expansão da mata ciliar na área da nascente do córrego do Tanquinho e manutenção da fauna e da flora da região através de um paisagismo com espécies nativas.
Conceito
Em uma parcela de 114000m2 na área rural de Araraquara, onde hoje crescem plantações de soja, encontra-se o limite de expansão urbana do município e o limite físico da linha do trem. O surgimento de novos bairros em uma área ainda não urbanizada, aponta para a alteração da paisagem existente resultado da eminente expansão da malha urbana.
A cidade se expande ignorando a memoria do território. O rural é facilmente esquecido pela sobreposição do urbano e por menor que seja, a possibilidade de uma interrupção nesta malha permite que o homem sinta novamente sua terra e lembre assim de sua existência.
Neste projeto nota-se a oportunidade de fazer permanecer algo do que foi em um lugar que em poucos anos se transformará em cidade. Assim a tentativa da manutenção da memória foi levada em pauta para a construção da nova paisagem.
Hoje é possível identificar o lugar por sua paisagem agrária de linhas que se sucedem e acompanham a topografia para otimizar a produção do território. Desta forma o projeto tem como ponto de partida o parcelamento da área em bandas que seguem as marcas deixadas pelas plantações e consequentemente as linhas topográficas.
Estratégias projetuais
– Subdivisão do terreno em “bandas” como matriz de ocupação programática e paisagística através de faixas que acompanham o perfil natural do terreno. A topografia foi utilizada como base para a organização do projeto.
– Criação de caminhos ao longo das “bandas” para conexão dos programas com as bordas do terreno. Foram implantados caminhos planos e pavimentados de 2,5m de largura, traçados paralelamente às “bandas” e ao perfil natural do terreno, posicionados estrategicamente para a articulação dos novos programas com a cidade, garantindo a acessibilidade de todos os novos usos.
– Inserção de um grande vazio e de espaços de esporte, lazer e equipamentos no sentido das “bandas”. Aproveitamento dos taludes resultantes da acomodação dos programas na inclinação natural do terreno para a criação de arquibancadas e espaços de estar relacionados aos usos.
– Criação de áreas de passeio através de calçadas largas ao longo das bordas que estabelecem a relação com a cidade e conformam uma grande praça em frente aos lotes comerciais do loteamento.
– Estabelecimento de um eixo de 7,5m de largura e aproximadamente 600m de extensão que atravessa diagonalmente o parque conformando um boulevard de passeio com áreas de estar e mobiliário ao longo de seu trajeto. Circulação principal que conecta todos os caminhos programáticos e articula todos os programas às margens. Criação de praças de entrada através do alargamento do eixo nos principais pontos de acesso ao parque.
– Implantação de dois caminhos perimetrais para prática de esportes. Uma ciclovia de aproximadamente 1800m e 2,5m de largura circunda todo o limite do parque e uma pista de cooper de aproximadamente 1700m e 2,5m de largura acompanha internamente a faixa de bicicletas se aproximando em alguns momentos das áreas programáticas.
– Implantação de dois bolsões para estacionamento de veículos a 45º em relação à avenida e um estacionamento interno totalizando aproximadamente 200 vagas.
Programa
A implantação dos programas foi planejada de forma a promover a ocupação por pessoas em toda a extensão do parque.
Primeiramente foram inseridas as áreas destinadas ao esporte e ao lazer como academia ao ar livre, playground, pista de skate, duas quadras de futebol society, duas quadras de areia e duas quadras poliesportivas. Esses programas são conformados por áreas de estar e arquibancadas gramadas que vencem o desnível resultado pelos movimentos de terra necessários para acomodação dos usos.
Também conformado por uma grande arquibancada, um amplo espaço vazio gramado foi criado sem um uso ou finalidade definidos, servindo de palco para diversas e imprevisíveis apropriações e tendo capacidade para abrigar grandes eventos efêmeros (shows, circo itinerante, etc.).
Na praça mais baixa do terreno localizada em uma área institucional, estão localizados os equipamentos de apoio aos usuários (sanitários e vestiários), áreas para os funcionários que farão a manutenção do parque, depósitos e berçário de plantas.
A área institucional mais alta do terreno abriga as infraestruturas de apoio às áreas de lazer, como lanchonete, sanitários e vestiários, além de um mirante com vista para todo o parque e para a cidade. Também nessa área foram reservados cerca de 6.000 m2 para a implementação futura de um equipamento público de grande porte (escola, unidade de saúde, etc.) para suprir as necessidades da população do novo bairro.