SETOR HABITACIONAL QNR06 CEILÂNDIA 

ficha técnica

  • Localização: Ceilândia, DF 
  • Ano Projeto: 2018 
  • Ano Obra:  
  • Área Terreno: 285.855  
  • Área Projeto: 226.968 m2 (1250 unidades habitacionais + equipamentos públicos) 
  • Autores: Daniel Corsi (Atelier Daniel Corsi), André Sauaia (SAU), Fernando O´Leary, Pedro Domingues, Pedro Faria (VAGA arquitetura), Rafael Costa (Urbem), Martina Mazzuco (Arquitetura Rural) 
  • Colaboradores: 
  • Cliente: Governo do Distrito Federal – Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB/DF) 
  • Projetos Complementares e Consultorias: –  
  • Fornecedores: –  
  • Fotos:  
  • Prêmios: 1º Lugar no Concurso Público Nacional de Projetos de Urbanismo e Arquitetura para o Setor Habitacional QNR 06, na Região Administrativa de Ceilândia – RA IX – Distrito Federal 
  • Publicações: ArchDaily Brasil 

1º Prêmio 
Concurso Público Nacional de Projetos de Urbanismo e Arquitetura para o Setor Habitacional QNR 06, na Região Administrativa de Ceilândia – RA IX – Distrito Federal 

Proposta vencedora do concurso nacional para o projeto de urbanismo e arquitetura de um novo setor habitacional na cidade satélite de Ceilândia – Distrito Federal. O projeto envolve todos os elementos de urbanismo, incluindo os espaços públicos e sistemas viários, bem como a arquitetura de todos os edifícios, principalmente das Unidades Habitacionais definidas pelo programa público nacional do Minha Casa Minha Vida. O espaço urbano promove a convergência das dimensões econômica e social, relação indispensável a um espaço urbano de qualidade. A estratégia de implantação de uma grande praça, concentrando as áreas verdes em uma das bordas da gleba, também possibilita uma economia em infraestrutura urbana, e o faz garantindo um espaço livre envolvido pela cidade. 

Contexto, Desafio e Possibilidades

Com quase 500 mil habitantes, Ceilândia vem se consolidando, cada vez mais, como uma área urbana de alto dinamismo econômico e social. Seu centro é repleto de áreas comerciais e de serviços, sendo marcado pela Feira Central de Ceilândia, maior referência da cultura agrícola e da culinária local. Esse êxito econômico veio acompanhado do desenvolvimento social de sua população, em grande parte promovido por programas sociais de sucesso, tornando a cidade um polo de cultura urbana de originalidade ímpar, que desponta artistas e esportistas para o Brasil e para o mundo.

No entanto, seu denso subúrbio ainda apresenta carência de qualidade urbana para absorver e sustentar a demanda habitacional e de emprego oriunda de um processo acelerado de crescimento populacional. Nesse sentido, junto à questão habitacional, entende-se que o principal desafio desse projeto é inaugurar uma nova centralidade, capaz de gerar renda, emprego e novas oportunidades, consolidando o direito à cidade.

Nesse sentido, são aquelas manifestações culturais urbanas em ascensão na cidade e as práticas de agricultura observadas em seus interstícios e entorno que orientam a atuação nesse local limítrofe entre o rural e o urbano.

A Praça Central

O projeto se ordena, então, a partir da criação de um grande espaço central onde se combinam sistemas produtivos de alcance regional (agricultura orgânica – empregando técnicas de sustentabilidade) e espaços cívicos de encontro e convívio ligados à promoção da cultura e do esporte urbano (dança, música, grafite, skate), entre outras atividades que comprovadamente qualificam a juventude local e lhes dá futuro. Dessa maneira, esse espaço promove a convergência das dimensões econômica e social, relação indispensável a um espaço urbano de qualidade. A estratégia de implantação de uma grande praça, concentrando as áreas verdes em uma das bordas da gleba, também possibilita uma economia em infraestrutura urbana, e o faz garantindo um espaço livre envolvido pela cidade.

A Configuração da Praça Central

Os usos habitacionais e comerciais distribuídos à volta da praça são os primeiros elementos a garantir dinâmicas fundamentais para a sua qualidade e segurança em todos os períodos do dia. Com isso, o entorno edificado deste espaço central lhe dá suporte programático e configuração, promovendo usos que dialogam diretamente com suas atividades e potencializam cadeias produtivas importantes. Essa relação é marcada por um Mercado, ancorado em uma de suas esquinas, que nos moldes da Feira Central de Ceilândia poderá promover o desenvolvimento econômico do bairro e de seu entorno. Nele poderão ser comercializados tanto os produtos agrícolas cultivados na própria praça quanto aqueles produzidos nas redondezas, além de abrigar bares e restaurantes voltados à culinária local. Esse equipamento está estreitamente ligado a um complexo prático de qualificação da mão de obra e capacitação gerencial, aqui proposto para intensificar as técnicas de cultivo, de processamento e de comercialização dos produtos orgânicos, buscando aumentar seu valor agregado e alcançar outros mercados potenciais. Tal complexo está situado em um lote autônomo, podendo ser administrado mediante articulação técnica entre agentes públicos e privados. Ao lado do complexo, a Centro de Ensino Fundamental também se volta à praça central, transformando-a num grande espaço de encontro, aumentando as suas formas de apropriação social.

A Relação com o Entorno Existente

Além dessa relação com a praça central, as quadras edificadas cumprem outro papel importante, o de relacionar o novo bairro com as áreas urbanas adjacentes. Isso se dá por meio da definição de usos para a borda do novo bairro que dialogam com os observados em seu entrono, criando uma espécie de espaço híbrido e de transição, cuja morfologia também procurou dar continuidade à malha urbana principal existente e planejada.

A proximidade da rodovia (BR-070), por exemplo, oferece a possibilidade de escoamento da produção agrícola para outras áreas, incluindo o Plano Piloto e as cidades vizinhas. Para isso, a implantação de um galpão voltado à logística, armazenamento e reciclagem, conectado ao complexo prático de qualificação e ao Mercado é oportuna. Essa rodovia é também um importante eixo para o posicionamento da UBS, pela facilidade de acesso, bem como para implantação de áreas comerciais de grande porte, edifícios de serviços e centros de distribuição.

A via a oeste é marcada hoje pelo uso residencial horizontal, condição que levou à decisão de se concentrar parte das unidades habitacionais nas suas proximidades que contribuíssem para sua qualificação, estabelecendo uma área residencial mais reservada cujo núcleo local passa a ser o novo Centro de Educação Infantil solicitado.

A sul foram propostos alguns galpões – previstos para aluguel ou venda – com usos compatíveis com o novo bairro (pequeno porte, baixa incomodidade e não poluente), dialogando com a área industrial adjacente. Sugere-se o incentivo à implantação de usos industriais intensivos de conhecimento e de inovação tecnológica, associados a programas de capacitação digital, de modo a colaborar para a ascensão social dos trabalhadores locais. 

A leste, uma grande faixa de vegetação filtra os ventos predominantes do inverno, mais secos, além de atrair e oferecer refúgio à fauna local, promovendo biodiversidade e saúde ao espaço agrícola adjacente.

Os Fluxos

A unidade entre cidade, bairro e praça é promovida pelos fluxos de pessoas e mercadorias que se dão nos grandes largos de acesso, que se configuram como portais para amplos bulevares, cercados por diferentes tipos de uso e atividades. Somam-se a estas dinâmicas os interiores das quadras, concebidos por meio de uma rica diversidade de espaços, programas e possibilidades de apropriação, sempre tratados por meio de graduações entre atividades públicas e as áreas habitacionais.

O Parcelamento

– Áreas Habitacionais:

As áreas e conjuntos de edifícios de habitação se definem por acessos independentes e relação direta com o espaço público. Simultaneamente, desfrutam da coletividade dos espaços intersticiais que permitem o acontecimento de uma vida urbana mais humana e acolhedora. As construções são pautadas por critérios de economia, sistemas construtivos padronizados, agilidade e soluções de sustentabilidade. Seu posicionamento se revela de forma distribuída, mas principalmente procura dar vida às praças e largos de acesso. A mescla e diversidade de tipologias permitem o atendimento de diferentes perfis familiares e faixas de renda.

– Áreas comerciais e de serviços:

O posicionamento das áreas comerciais foi definido pelos seguintes critérios: a) um grande mercado e um entorno ativo na praça; b) ativação dos largos de acesso à praça; c) fachadas ativas nas ruas principais; e d) junto à rodovia de forma a atrair o fluxo passageiro. Quanto aos serviços, alguns edifícios mais verticalizados para escritórios, consultórios, entre outros, foram posicionados em vértices estratégicos da nova via de circulação solicitada.

– Áreas Institucionais:

Associadas aos eixos de mobilidade, aos espaços públicos e às ciclovias, cada um dos equipamentos se encontra em lote próprio. Estão distribuídas segundo os seguintes critérios: a) Centro de Ensino Fundamental associado à praça; b) Centro de Educação Infantil junto à uma rua local residencial; c) Unidade Básica de Saúde junto à rodovia; d) Delegacia de Polícia voltada ao bairro existente; e e) Centro de Referência de Assistência Social em área mais recolhida.

– Base produtiva e cultural:

Atendendo à solicitação do edital, propomos um outro setor determinante para a promoção da centralidade pretendida. A base produtiva consiste em uma escola de agricultura, outra de administração e outra de gastronomia, completamente associadas ao comércio do mercado vizinho proposto. Essa estrutura visa integrar de modo sustentável toda a cadeia de produção, qualificando as pessoas para que criem seus negócios e atividades econômicas próprias, num potente processo de desenvolvimento social. A prática agrícola é um eixo importante e próprio do local, associado à culinária do cerrado, que a influência da cultura nordestina fez florescer na região.

– Sistema de áreas verdes, agrícolas e espaços públicos:

O principal espaço verde do projeto está na praça central, cuja grande área visa, entre outras coisas, viabilizar economicamente a produção agrícola. Integrado a este, a faixa de mata a leste busca protegê-lo e fomentá-lo, também abrigando usos esportivos. Outros elementos importantes são os jardins centrais das quadras, os largos de acesso e permanência, as pequenas praças distribuídas pelo projeto nos acessos aos equipamentos.

– Mobilidade, logística e estacionamentos:

O sistema viário se estrutura a partir de diferentes tipos de vias, que comportam e combinam os diversos modais (ônibus, automóveis, ciclovias e passeios). O projeto assumiu as premissas regionais de implantação de duas grandes vias, que delimitam a praça. Junto à rodovia, foram posicionadas saídas logísticas de escoamento da produção. Por fim, estacionamentos e pontos de ônibus foram dimensionados conforme a demanda e posicionados de modo a não prejudicar as fachadas ativas. 

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